(A sala da cinemateca cheia.)
Na dúvida entre a afirmação de um documentário e o romance que as gentes verdadeiras não sabem encarnar, preferi as cenas do tear e dos montes que se perdiam na lonjura, dos pauliteiros de miranda do douro (confesso que era o momento por que ansiava).
Claro que o rústico deveria ser evidenciado, e ficou bem vincado em muitas cenas. Mas o exagero da neve nos pratos pareceu um devaneio do realizador, que até já nos tinha presenteado com os putos que de repente acordam vestidos de medievais da corte a apanhar galhos para a fogueira. OK, percebi que não há muito que muda em 7 gerações, e que a vida lá se vai fazendo sem saber das leis que Lisboa faz. É triste, diz a certa altura, estar sujeito a regras que são feitas lá longe e não sabemos, mas a vida faz-se, dura e triste nos dias de pouco sol, incólume e pagã nos montes dos pastores de cabras e ovelhas com gritos especiais, alegre e desprendida nas botas e saias e paus dos pauliteiros.
A tradição das histórias das mães para os filhos, a curiosidade operatória dos putos que deliram nos jogos de rua, nos espigueiros e casas abandonados.
Um dia, vou lá ouvir cantar as velhinhas, e ajudá-las a levar os sacos de plástico carregados pelas escadas em pedra.